Pessoal, temos uma incrível novidade! A partir desse mês, começaremos a produzir conteúdos voltados para a medicina veterinária. Confira!
A anestesia inalatória vem sendo utilizada há mais de 150 anos, com a aceitação da aplicação do éter pela comunidade médica em 1846. Desde então, menos de 20 novos agentes foram descobertos e apenas um quarto destes são utilizados na rotina de clínicas veterinárias hoje em dia.
Os primeiros anestésicos inalatórios, como o éter e clorofórmio, foram amplamente empregados na medicina veterinária para indução e manutenção da anestesia.
Entretanto, eles possuíam caráter explosivo e inflamável, além de resultarem em altas taxas de mortalidade. Sendo rapidamente substituídos pelo pentobarbital e tiopental após a descoberta destes em 1930 e 1933.
Somente após a década de 1950, com a descoberta do halotano e anestésicos halogenados, é que a anestesia inalatória voltou ao cenário médico e novas técnicas foram desenvolvidas.
Hoje, a anestesia inalatória é a modalidade anestésica que oferece maior segurança ao profissional e paciente.
A facilidade de controle da profundidade do plano anestésico e as baixas taxas de metabolização dos fármacos permitem uma maior tranquilidade aos profissionais em relação ao tempo anestésico sem acarretar em prejuízos ao paciente.
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Medicina Veterinária x Medicina Humana
A diferença das taxas de mortalidade entre animais de companhia e humanos é evidente.
Enquanto cães apresentam uma mortalidade em procedimentos cirúrgicos de 1:130 e gatos de 1:108, o índice em humanos varia de 1:50.000 até 1,4 para um milhão.
A relação entre mortalidade e fármacos utilizados é de difícil estabelecimento devido aos diversos protocolos e possíveis erros médicos. Além, das diferenças nos estados clínicos dos pacientes, ou seja, sua classificação ASA.
Essa diferença exorbitante entre os índices de mortalidade animal e humano em procedimentos cirúrgicos pode ser explicada pela discrepância de recursos que a medicina humana possui quando comparada a medicina veterinária.
As instalações e equipamentos utilizados nos procedimentos cirúrgicos em humanos são geralmente completas e de alta qualidade. Enquanto, muitas das clínicas veterinárias não possuem aparelhos de anestesia inalatória e nem monitores multiparamétricos.
Além disso, na medicina humana, o único profissional habilitado a realizar uma anestesia geral é um médico anestesista especialista. Na medicina veterinária ainda vemos profissionais que não julgam necessário a presença de um especialista e se aventuram a monitorar e operar seus pacientes simultaneamente.
Não é de se espantar que essa atitude possa acarretar em prejuízos e até a morte do paciente, mas sua repercussão na credibilidade não afeta somente o profissional responsável por tal ato, como de toda classe veterinária.
Vantagens e Desvantagens
Com os altos preços dos aparelhos de anestesia inalatória, que podem variar de R$3.000 até mais de R$50.000, e a necessidade de contratação de um profissional qualificado, muitas clínicas apresentam grande relutância em se adaptar ao uso dos anestésicos voláteis.
Em contrapartida, a necessidade de uma fonte de oxigênio, da intubação traqueal do paciente, de absorvedores de gás carbônico e balão respiratório; o auxílio a ventilação e oxigenação adequada do paciente diminui a morbidade e mortalidade durante o procedimento anestésico.
A maior vantagem da anestesia inalatória é a facilidade em se adequar o plano anestésico.
Aprofundando ou superficializando, conforme a necessidade cirúrgica, o que os torna ideais para procedimentos de longa duração.
Diferente dos anestésicos injetáveis, que são amplamente biotransformados pelo fígado e eliminados pelos rins, os anestésicos inalatórios possuem baixas taxas de metabolização e são eliminados, em boa parte, pela própria via respiratória.
Além disso, os anestésicos injetáveis apresentam tempo hábil muito curto e a maioria não possui efeitos analgésicos.
Anestésicos inalatórios, como o isofluorano, produzem menores alterações fisiológicas quando comparados aos agentes injetáveis, sendo altamente indicados em pacientes de risco, idosos, nefropatas, hepatopatas, neonatos, entre outros.
O isofluorano, em especial, apresenta rápida indução e recuperação anestésica, sendo o fármaco de eleição para a maioria dos profissionais que trabalham com anestesia inalatória.
A presença de um médico veterinário anestesista monitorando o paciente ininterruptamente garante que qualquer intercorrência seja prontamente percebida e remediada.
Não deve depender da utilização ou não de anestesia inalatória, apesar desta fornecer maiores recursos e segurança ao profissional. Um profissional qualificado poderá, também, coordenar a aquisição dos aparelhos e adaptação dos protocolos visando o melhor custo-benefício para sua clínica.
O investimento inicial é dispendioso e será necessário o treinamento da equipe para utilização dos aparelhos anestésicos, mas contar com um médico veterinário anestesista pode poupar tempo e dinheiro.
Assim como, a opção por sistemas fechados, que não só evitam a poluição do ambiente pelos anestésicos como demandam um menor fluxo durante a manutenção do paciente, levando a um menor desperdício e maior aproveitamento dos fármacos.
Conclusão
Atualmente os animais domésticos vem assumindo um papel cada vez maior como integrantes da família. Consequentemente, há uma maior preocupação por parte dos tutores.
Esse apego, muitas vezes semelhante ao parental, reflete nas decisões médicas que os tutores devem tomar em relação a seus pets.
Com a facilidade que a internet promove, os tutores tendem a ir cada vez mais em busca de informação antes de tomarem uma decisão médica e, geralmente não demoram a concluir. Neste caso, que devem optar por uma anestesia inalatória para a cirurgia de seu animal.
O medo da perda de seu pet, associado a informações exageradas e até errôneas podem levar o tutor a exigir uma anestesia inalatória, independente de sua real necessidade, ou até desistir do procedimento. Mesmo que este vá trazer benefícios a saúde do animal.
Uma clínica que visa fidelizar seus clientes e longevidade no mercado deve, não só fornecer a melhor opção de tratamento para seus pacientes. Mas, principalmente, dispor de profissionais capacitados para execução do procedimento anestésico e que saibam justificar o uso de seu protocolo de escolha aos tutores.
Cabe ao médico veterinário anestesista ponderar sobre o custo-benefício que um aparelho de anestesia inalatória irá proporcionar a seus pacientes, de acordo com os tipos de cirurgias comumente realizadas na clínica e o perfil de seus pacientes.
Palavras chave: Anestesia inalatória; Anestésico.
Fontes
MASSONE, Flavio.Anestesiologia Veterinária – Farmacologia e Técnicas. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.
SPINOSA, Helenice; GÓRNIAK, Silvana; BERNARDI, Maria. Farmacologia Aplicada à Medicina Veterinária. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. p. 140-146.
Lumb & Jones Veterinary Anesthesia and. Analgesia, 4th ed., Iowa: Blackwell Publishing, 2007.
Santos, Camem Baptista. Complicações Relacionadas com a Anestesia Inalatória. In: Revista Brasileira de Anestesiologia. Vol 41: No. 1, janeiro/fevereiro 1991. p. 21-27.
Ariadne Zampieri Neves
Médica Veterinária formada pela Universidade Estadual de Londrina.