[Atenção Veterinários] Avaliação Nutricional para Animais

Tanto em humanos quanto em animais, a nutrição é fundamental pois está diretamente relacionada ao funcionamento de todas as células do organismo. A análise de fatores e avaliação nutricional deve ser realizada para manter o nível de saúde dos animais, bem como, auxiliar no tratamento de enfermidades já instaladas no organismo do animal ou prevenir e otimizar a qualidade de vida de cães e gatos.

A relação entre homem e animal vem mudando com a modernização da sociedade, resultando em uma expansão do setor de nutrição animal.

Infelizmente, a abordagem nutricional ainda não é realizada em todas as consultas de cães e gatos e por este motivo, a Associação Mundial de Medicina Veterinária de Pequenos Animais criou as diretrizes para uma análise nutricional de animais de estimação, visando que a mesma deve ser realizada em todas as consultas.

Inicialmente, a abordagem nutricional consiste em uma anamnese detalhada referente a fatores nutricionais (alimentos oferecidos, quantidade, etc) e exame físico direcionado a nutrição, se o animal apresentar riscos referentes a nutrição, é necessário uma abordagem mais aprofundada que consiste em análises de condição corporal mais elaboradas.

Avaliação Nutricional de Triagem

A avaliação nutricional de triagem deve ser realizada em todas as consultas médicas de cães e gatos.

Rotineiramente, nesta avaliação realiza se as seguintes investigações: pesagem, inquérito nutricional, score de condição corporal, índice de massa corporal, análise de pele e cavidade oral; quando nessas análises o animal apresente alguma alteração é recomendado que se realize a avaliação nutricional aprofundada (WSAVA, 2010).

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Inquérito Nutricional

Inicialmente, a abordagem nutricional consiste em uma anamnese detalhada referente a fatores nutricionais (alimentos oferecidos, quantidade, etc), ambientais e comportamentais do animal.

O quadro abaixo elucida alguns dos aspectos que devem ser questionados durante a consulta médica (WSAVA, 2010).

QUADRO 1: Aspectos que devem ser questionados durante a consulta clínica de cães e gatos.

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Fonte: WSAVA, 2010.

Pesagem

A avaliação da condição corporal por meio da pesagem é normalmente o primeiro parâmetro a ser avaliado, porém este é um método pouco preciso.

Pois, para poder avaliar cuidadosamente o animal é necessário um histórico clínico com anotações de pesagens anteriores (GUIMARÃES, 2009).

Segundo Kulik (2009) e White et al. 2011, a percepção dos proprietários sobre a condição corporal do seu animal é completamente diferente da percepção do médico veterinário, por este motivo é importante um histórico de pesagens.

ECC – Escore de Condição Corporal

A determinação por meio da pesagem por si só não é suficiente para avaliação corporal adequada do paciente, pois a mesma pode sofrer influência de diversos outros fatores como edema, sendo difícil diferenciar a perda ou o ganho de massa magra em comparação a massa adiposa, por este motivo, a utilização do parâmetro de ECC se tornou importante na abordagem nutricional de cães e gatos (COWGILL, 2003).

Esse método leva em conta a observação da silhueta e a palpação, correlacionando gordura subcutânea, abdominal e musculatura superficial, para classificar o indivíduo em um grupo de categorias que variam do caquético ao obeso (MAWBY, 2004).

score é obtido mediante avaliação visual e tátil e é classificado conforme a figura 1.

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FIGURA 1: Classificação do escore corporal de cães e gatos segundo Cowgill, 2003.

Índice de Massa Muscular (IMM)

O IMM consiste na visualização e palpação dos músculos que revestem os ossos temporais, escápula, costelas, vértebras lombares, asas do íleo e ossos pélvicos como elucidado na figura 2. Para finalizar a avaliação, o animal é classificado numa escala de 0 a 3 pontos como demonstrado na tabela 1 (MICHEL et al., 2011).

Esta é uma técnica que ainda está em desenvolvimento, mas segundo Zoran et al. (2009), é necessário que ela seja realizada em todas as consultas médicas de cães e gatos, pois é uma ferramenta eficaz para a diferenciação entre massa magra e massa adiposa.

Figura 3: Sistema de índice de massa muscular obtido por meio de palpação e inspeção.

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Fonte: WSAVA, 2010.

Tabela 1: Escore para análise de índice corpóreo em cães e gatos.

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Fonte: Adaptado de MICHEL et al.(2011).

Avaliação da Pele

A pele é o maior órgão do corpo e tem como funcionalidade realizar a proteção contra fatores físicos, microbiológicos e químicos, realizando também a percepção de componentes sensoriais como frio, calor, pressão, etc (SCOTT et al. 1985).

Como a pele é um órgão bastante ativo em relação ao ponto de vista metabólico, encontra-se na mesma uma grande demanda de aminoácidos, ácidos graxos, minerais e vitaminas. Portanto, qualquer desequilíbrio no consumo destes nutrientes resulta em rompimento da função de segurança tornando o animal mais vulnerável a reações como alergias (PRÉLAUD e HARVEY, 2006).

Em relação a levantamentos epidemiológicos sobre a ocorrência de dermatopatias nutricionais, nota-se que no Brasil não se tem levantamentos sobre este tema, fato explicado pela a má alimentação que os animais recebem, bem como a ingestão de alimentos comerciais de baixa qualidade (CARCIOFI et al. 2006).

Uma doença de pele pode ser resultante tanto de deficiências, quanto de excessos e
desequilíbrios nutricionais e o órgão responde com apenas alguns tipos de lesões clínicas, normalmente muito semelhantes entre as diferentes doenças.

De acordo com Scott et al. (1985), os principais desequilíbrios nutricionais que desencarretam doenças nutricionais são: deficiência de ácidos graxos, proteínas, zinco, vitamina A,B e E. Os excessos de nutrientes mais observados são  de vitamina A e até hipersensibilidade alimentar.

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Avaliação da Cavidade Oral

A abordagem nutricional relacionada com a saúde oral deve ser realizada por meio de detalhada inspeção da cavidade oral, anamnese e exame físico.

Os tutores podem relatar que os animais apresentaram: disfagia, dor a alimentação, salivação, sangramentos orais, halitose, relutância em comer, perda de peso e falta de disposição (GORREL et al. 2007).

É rotineiro notar-se desidratação em animais com distúrbios orais, deste modo, faz-se necessário realizar fluidoterapia e estimular o animal a consumir água.

A transição da dieta do animal de alimento seco para alimento úmido também é de grande valia pois auxilia o organismo a manter-se em equilíbrio hídrico.

Cães e gatos que apresentam doença oral devem ingerir pequenas porções de alimentos em suas refeições diárias, e a cada refeição é necessário que se realize a limpeza da cavidade oral com água com intuito de remover materiais que se aderem a cavidade durante a alimentação.

Quando preciso é recomendado a utilização de métodos de alimentação por sondas até que o desconforto e as lesões sejam reduzidas
(GIOSO, 2007).

Avaliação Nutricional aprofundada

A avaliação nutricional aprofundada é realizada quando se tem alguma alteração evidente na avaliação de triagem. Estes itens concluem que a nutrição tem um papel importante no desenvolvimento, manejo de doenças latentes ou na etapa de vida de um animal.Primeiramente, é necessário revisar todos os dados obtidos na avaliação de triagem para aprofundar a análise do caso do animal (WSAVA, 2010).

Medidas Morfométricas

A avaliação por meio da morfometria tem como característica a ideia de que as proporções básicas do corpo possuem relação com o total de massa magra. Portanto, todo o aumento de medida pode ser elucidado como adição de massa adiposa (BARBOSA et al., 2001). Neste método, é necessário mensurar as dobras cutâneas deduzindo que a espessura é representativa do total de gordura (PETROSKI, 1995).

Bioimpedância

O organismo dos animais possui diversos fluidos que comportam-se como condutores elétricos heterogêneos, membranas como capacitores e gordura como isolante, ocasionando uma resistência à passagem de corrente elétrica.

Com isso, o organismos possui elementos de resistência e capacitância os quais geram oposição à condução da corrente elétrica alternada, denominada como impedância, que é dependente da frequência (BAUMGARTNER et al., 1990).

Este método mede parâmetros, como fluxo de sangue e composição de corpo, avaliando a composição corporal pela diferença da condutividade elétrica dos tecidos e as medidas de resistência (R) e reatância (Xc) compõem a equação que determina o resultado (BORGES, 2006),  estimando a quantidade de água e de gordura presentes e, com o auxílio de equações, consegue determinar a porcentagem de massa magra (MM) (GUO et al., 1996).

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Letícia Martins de Pádua 

Médica Veterinária formada pela FESB (CRMV 45529)

 

Referências:

BARBOSA, A. R.; SANTARÉM, J. M.; JACOB FILHO, W.; MEIRELES, E. S.; MARUCCI, M. F. N. Comparação da gordura corporal de mulheres idosas segundo antropometria, bioimpedância e DEXA. Archivos Latinoamericanos de Nutricion,Caracas, v. 51, n. 1, p. 49-56, 2001.

BORGES, N. C. Avaliação da composição corporal e desenvolvimento de equações para a estimativa de massa gorda e massa magra em felinos (feliscatus – linnaeus, 1775) adultos. 2006. 106 f. Tese (Doutorado em Medicina Veterinária) – Faculdade de Ciência Agrária e Veterinária, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal.

BURKHOLDER, W. J.; TOLL, P. W. Controle da obesidade. In: HAND, M. S.; TATCHER, C. D.; REMILLARD, R. I.; ROUDEBUSCH, P. Small animal clinical nutrition. 4.ed. Topeka: Mark Morris Institute, 1997. p. 1-44.

CARCIOFI, A.C.; VASCONCELLOS, R.S.; BORGES, N.C.; MORO, J.V.; PRADA, F.; FRAGA, V. O. Composição nutricional e avaliação de rótulo de rações secas para cães comercializadas em Jaboticabal-SP. Arquivos Brasileiros de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.58, n.3, p.421-426, 2006.

COWGILL, L.D. Advanced therapeutic approaches for the management of uraemia-“the met and unmet needs”. Journal of Feline Medicine and Surgery, v.5, n.1, p.57-67, 2003.

GIOSO, M. A. Odontologia veterinária para o clínico de pequenos animais. 2. ed. São Paulo: Manole, 2007. 86p.

GORREL, C.; GRACIS, M.; HENNET, P.; VERHAERT, L. Doença periodontal no cão. Veterinary Focus, França, v. 17, n. 2, 2007.

GUO, S. S.; CHUMLEA, W. C.; COCKRAM, D. B. Use of statistical methods to estimate body composition. The American Journal of Clinical Nutrition, New York, v. 64, n. 3, p. 428S-35S, 1996.

GUIMARÃES, P. L. S. N. Conformação corporal e bioquímica sanguínea de cadelas adultas castradas alimentadas ad libitum. 2009. 71f. Tese (Doutorado em Ciência Animal) – Escola de Veterinária, Universidade Federal de Goiás, Goiânia.

KULICK, D. Animais gordos e a dissolução da fronteira entre as espécies. Mana, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 481-508, 2009.

MAWBY, D.I. Comparison of various methods for estimating body fat in dogs. Journal of the American Animal Hospital Association, v.40, p.109-114, 2004.

MICHEL, K. E., Anderson, W., Cupp, C., Laflamme, D. (2011). Correlation of a feline muscle mass score with body composition determined by dual-energy X-ray absorptiometry. British Journal of Nutrition, 106(Suppl 1), S57–S59.

PETROSKI, E. L. Desenvolvimento e validação de equações generalizadas para a estimativa da densidade corporal em adultos. Santa Maria, 1995, 124f. Tese (doutorado), Ciência do Movimento Humano, Universidade Federal de Santa Maria.

PRÉLAUD, P; HARVEY, R. Nutritional dermatoses and the contribution of dietetics 30 in dermatology. In: PIBOT, P.; BIOURGE, V.; ELLIOT, D. Encyclopedia of canine clinical nutrition. Paris: Aniwa SAS, 2006. p. 58-91.

SCOTT, D. W., MILLER, W. H.; GRIFFIN, C. Skin immune system and allergic skin disease. In: Muller and Kirk’s: Dermatologia de pequenos animais. Philadelphia, WB Saunders 2001, pp. 543-666, 3 ed., 1985.

WHITE, G. A.; HOBSON-WEST, P.; COBB, K.; CRAIGON, J.; HAMMOND, R.; MILLAR, K. M. Canine obesity: is there a difference between veterinarian and owner perception? Journal of Small Animal Practice, Oxford, (on line first), 2011. Disponível Em: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1748- 5827.2011.01138.x/pdf.

WSAVA, 2010 – Diretrizes Para Avaliação Nutricional.Disponívelem:http://www.wsava.org/WSAVA/media/PDF_old/Global-Nutritional-Assessment-Guidelines-Portuguese.pdf. Acessado: 20/04/19

ZORAN, D. (2009). Feline obesity: clinical recognition and management. Compendium (Yardley, PA), 31(6), E3.

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